'Procurávamos por um Sean Penn de nove anos de idade', diz Spike Jonze

G1 participou de entrevista com diretor de 'Onde vivem os monstros'.
Fábula conta história de menino que briga com a mãe e foge de casa.


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Encontrar as criaturas fofas - misto de bonecos reais com animação por computador - de "Onde vivem os monstros" não foi tão difícil. Complicado mesmo, confessou o diretor Spike Jonze em entrevista da qual o G1 participou em Los Angeles, foi encontrar o seu "Sean Penn de nove anos de idade".

"Levamos mais de um ano fazendo testes e procurando o ator certo. Já estávamos perto das filmagens e comecei a entrar em pânico porque ainda não tínhamos o Max certo. Eu estava preparado até para atrasar as filmagens", diz Jonze, que acabou recorrendo aos amigos para encontrar o seu protagonista-mirim e o final foi feliz. "Encontramos um menino que também se chama Max, Max Records."

A fábula infantil filmada pelo diretor a partir do livro original de Maurice Sendak chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira (15). O filme conta a história de Max (Max Records), um menino de nove anos mimado que, revoltado com uma das brigas com a mãe (Catherine Keener), se transporta, através de sua imaginação, a uma ilha deserta selvagem habitada por monstros e onde se transforma em rei.

Confira a seguir trechos da entrevista com Jonze.

Pergunta - O que você quis dizer ao fazer este filme?
Spike Jonze -
Tentei capturar como as crianças se sentem quando têm nove anos de idade. A profundidade do sentimento é igual à de quando você é mais velho. Com nove anos, se você se sente solitário, se sente saudades, se está com raiva, esses são sentimentos tão profundos quanto os de um adulto. E eu quis fazer um filme que levassse isso a sério.

Pergunta - O autor Maurice Sendak afirma que o livro é muito pessoal, que foi inspirado em sua infância solitária e triste. Como foi a sua?
Jonze -
Eu me identifico muito com Max e também me sinto ligado aos monstros e todos os aspectos deles. É por isso que fico animado por um trabalho. Quanto mais me identifico com o projeto, fico mais satisfeito com ele. Até mesmo nos filmes que fiz com Charlie Kauffman, “Quero ser John Malkovich” e “Adaptação”, também me sentia de alguma maneira próximo dos personagens. Mas acho que estou fugindo da pergunta... Não me sinto à vontade falando de minha vida pessoal. Quem sabe quando ficar mais velho, com a mesma idade que o Maurice. A gente fala sobre o assunto daqui a alguns anos (risos).

Pergunta - Sua mãe costumava ler esse livro para você quando criança. O que mais te marcou?
Jonze -
Eu ficava hipnotizado pelos personagens do livro, dava a impressão de que eu já os conhecia, me pareciam familiares. Inclusive a sua escala, o tamanho de suas cabeças, algo que eles tinham de primitivo. Eu realmente adoro os personagens e gosto de olhar para eles. Queria ser o seu rei, ser capaz de dizer-lhes o que fazer. Eles eram fofos mas também tinham algo de assustador. Olhavam entre si pelo canto dos olhos, deixando dúvidas sobre até que ponto não consistiam em um perigo para Max - o que, portanto, torna o menino muito mais corajoso!

Pergunta - Foi difícil de encontrar o ator certo para interpretar Max?
Jonze -
Levamos mais de um ano fazendo testes e procurando o ator certo. Já estávamos perto das filmagens e comecei a entrar em pânico porque ainda não tínhamos o Max certo. Eu estava preparado até para atrasar as filmagens Tivemos então uma ideia diferente: em vez de usarmos diretores de elenco procurando atores infantis em diversas cidades, resolvemos chamar amigos nossos que vivem em cidades menores, que têm comunidades artisticas, e encontramos um menino que também se chama Max, Max Records.

Pergunta - Que características estava procurando?
Jonze -
A dificuldade era que, às vezes, eles [os atores-mirins] eram bons em passar o lado selvagem e inquieto [do personagem], ou então serviam apenas para passar o lado instropectivo de Max. Precisávamos de um garoto que tivesse maior alcance. Procurávamos por um Sean Penn de nove anos de idade ou alguém que nem precisasse falar, que somente com o olhar você já percebesse o que estava sentindo, alguém que tivesse uma complexidade na interpretação. Max [Records] é uma pessoa intensa e madura para a sua idade. Era justamente do que precisávamos.

Pergunta - Como foi trabalhar no filme?
Jonze -
Acho que Max e eu desenvolvemos uma parceria e uma colaboração. Quando precisávamos rodar cenas mais intensas, de briga entre Max e a mãe, ou a cena em que ele fala com a monstra KW, ou quando está arrependido de certas coisas que aconteceram em casa, começávamos o trabalho juntos, bem cedo, preparando-o até que chegasse ao ponto de emoção necessário. É ele que carrega o filme todo, e o filme daria certo ou errado por causa do trabalho de Max.

Pergunta - Você se lembra de como era seu mundo quando tinha nove anos de idade?
Jonze -
Quando eu tinha essa idade, acho que provavelmente era muito parecido com Max. Como ele, eu adorava "Star wars", os bonecos e livros da série. Tinha amigos, e nós criávamos o nosso próprio mundo. Tínhamos uma agência de detetive no meu sótão (risos), esse tipo de coisa.

Pergunta - Como descreveria seu relacionamento com o autor do livro Maurice Sendak?
Jonze -
Alguém me perguntou outro dia se meu relacionamento com ele era como se ele fosse meu avô, mas eu me sinto mais como se fosse irmão dele. [Sendak] tem atualmente 81 anos e embora esteja estabelecido na vida, ele ainda tem muitas perguntas sem resposta, como se estivesse com 30 anos. Ele é curioso e também é um poeta notável e absurdo. Você percebe isso em tudo o que ele escreve ou mesmo no jeito como conversa. É tudo tão honesto e engraçado quanto seus escritos. Gostaria de ter gravado todas as conversas que tive com ele. Tudo o que ele diz é muito bem sacado.

Pergunta - Você tem algum registro dessas conversas?
Jonze -
Na verdade, fizemos um documentário sobre ele durante a produção do filme. Eu vivia dizendo que queria preservar para sempre o que ele dizia. Quero poder ter estas conversas quando estiver com 81 anos e ser capaz de ouvir de novo o que nós dissemos. No fim, fizemos um retrato em vídeo que dura uns 40 minutos.

Pergunta - Você nao é mais aquele diretor jovem que era considerado uma promessa. Já se sente parte do "establishment" agora?
Jonze -
Acho que ainda não me sinto assim. Fiz apenas três filmes e, definitivamente, não sou mais o novo diretor. Mas acho que cada filme que faço é apenas porque me interessei por ele naquele momento. Faço muitas outras coisas além dos filmes - faço vários estilos de vídeos, como os de skate, e acabei de gravar um curta. Acho que estou mais ligado na ideia de fazer coisas diferentes do que apenas me estabelecer numa só coisa. Estou tentando fazer o que não domino para me colocar em situações em que eu possa aprender coisas novas, ter novos desafios. Por exemplo, nunca tinha feito nada parecido com este filme antes. Foi isso que tornou o desafio empolgante e assustador.

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